segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sou Criativo?

Escrito por Roberto Recinella, o artigo "Eu sou criativo?", publicano no Blog de Administração, visa mostrar a importância da criatividade. O artigo é longo, mas muito interessante.




Eu sou criativo?

Entenda como a criatividade é importante para o mundo, as empresas e sua carreira.

Uma das maiores autoridades no mundo em Pesquisa da Criatividade, o consultor maltês Edward de Bono, diz que “novos softwares são lançados todos os dias no mercado. Entretanto, utilizamos, para a nossa mente, o mesmo de 2400 anos atrás”. Ele está se referindo especificamente ao modo de raciocínio que herdamos dos gregos (Aristóteles, Sócrates, Platão). As pessoas e organizações falam muito sobre criatividade e inovação, mas fazem pouco.

Isto pode ser comprovado por uma pesquisa, apresentada pelo jornalista e consultor de criatividade Brian Clegg, realizada entre grandes empresas multinacionais nos anos 90, na qual constatou que 80% delas sabiam que a inovação era fundamental para alcançar ou sustentar uma vantagem competitiva em um mercado em acelerada transformação, mas que somente 4% dessas empresas achavam que o aspecto estava sendo bem trabalhado por elas.

Segundo Gary Hamel, um dos maiores nomes da administração moderna: “Você não consegue criar mais lucro sem criar novas receitas. Se quiser gerar riqueza, a empresa tem de inovar

Na área de informática, por exemplo, é lançado um software novo no mercado mundial a cada oito minutos.
Por outro lado, em 2001, as empresas brasileiras obtiveram a concessão de 125 patentes no Escritório de Patentes e Marcas dos EUA. Nesse mesmo período, a Coréia do Sul obteve 3.763 registros e Taiwan 6.545.

Richard Foster e Sarah Kaplan, no livro “Destruição Criativa – Por que empresas feitas para durar não são bem-sucedidas”, mostra um dado contundente. O tempo médio de permanência das empresas na lista das 500 maiores dos EUA está caindo de 65 para 10 anos. Sendo que a previsão para 2020 é a de que 75% das maiores empresas serão formados por organizações que não conhecemos hoje.

A teoria da “destruição criativa” foi desenvolvida por Joseph Alois Schumpeter (1883-1950), um dos maiores economistas do século20. Ateoria sustenta que o sistema capitalista progride por revolucionar constantemente sua estrutura econômica: novas firmas, novas tecnologias e novos produtos substituem constantemente os antigos. Como a inovação acontece aos trancos e barrancos, a economia capitalista está, de forma natural e saudável, sujeita a ciclos de crescimento e implosão.

Agora sabemos que criatividade e inovação são fatores importantes no caminho rumo ao sucesso pessoal e organizacional no século XXI. Como as empresas são compostas essencialmente por pessoas, temos que nos concentrar no desenvolvimento humano. Pois não existem empresas criativas sem pessoas criativas. Criatividade é um fator ligado a pessoas.

O principal obstáculo à criatividade e inovação dentro das empresas reside no fato de cada idéia nova ter de passar por diversos gerentes da organização. Eles podem não querer nada inovador, pois isso significa risco e perturbação. A solução seria que a inovação “cortasse caminho” de alguma forma, sem ter de passar por todos esses níveis hierárquicos, diminuindo assim os boicotes internos. A maioria das vezes as grandes idéias não chegam ao conhecimento das pessoas que realmente detêm o poder de mudança.

Mas eu sou criativo?

Centenas de milhares de pessoas se perguntam isso diariamente. A resposta: todo mundo é criativo.

Desde o tempo das cavernas o homem usa a sua criatividade para sobreviver, desenvolvendo, aos poucos, soluções práticas para os problemas da vida. Criando instrumentos e ferramentas a partir de pedaços de ossos e pedras para se defender e caçar.

O maior obstáculo para a criatividade é acharmos que não somos criativos

Testes de criatividade realizados pelo Dr. Calvin Taylor, da Utah University, apresentados no livro “Ponto de Ruptura e Transformação” do Dr. George Land, indicam uma realidade impressionante. Oito tipos de testes aplicados num universo de aproximadamente 1.600 indivíduos avaliados em diferentes fases de vida evidenciaram o seguinte: 98% de um grupo de crianças, cuja idade se situava entre três e cinco anos, apresentaram desempenho de criatividade correspondente à genialidade; 32% das crianças entre oito e dez anos possuíam grau de gênio; apenas 10% entre treze e quinze anos ainda permaneciam “gênios”; e, finalmente, restou apenas 2% dos jovens adultos acima de vinte e cinco anos com essas habilidades ativadas. De alguma estranha forma, parece que as crianças aprendem a não ser criativas.

Escolas anti-criativas

A explicação para esse fenômeno está na escola. Na realidade, nós começamos a desaprender a utilizar a criatividade ao entrar na escola, porque o sistema educacional vigente prioriza muito mais a memorização do que o saber pensar. Além disso, as escolas preconizam que tenhamos apenas uma resposta certa para cada problema ou situação.

Não há estímulos para discussão, o professor se comporta como um repetidor dos fatos não como um mediador do conhecimento. Esta pequena história infantil demonstra exatamente o que ocorre dentro das salas de aula atualmente:

Era uma vez uma galinha branca que punha ovos verdes…

Ovos verdes? – reclama a professora, indignada, interrompendo a leitura da redação, enquanto a turma se agita em risinhos e troca de segredinhos maliciosos.

Ovos verdes, sim, senhora professora – responde a aluna. – A galinha é minha e põe ovos da cor que eu quiser.

Menina está a brincando comigo? Já viu alguma galinha pôr ovos verdes? Sente-se imediatamente e refaça a redação.

Desolada a menina volta ao seu lugar, de cabeça erguida. Apenas sentou e pensou em seu desafio.

Durante o recreio ficou na aula, de castigo. Mas não fez outra redação.

Logo após o intervalo, a professora novamente a chamou para que lesse em voz alta a segunda versão, da redação.

E assim ela começa: Era uma vez uma galinha branca que punha ovos brancos, só porque não a deixavam pôr ovos verdes…”

É devido a situações como esta, que passamos a bloquear a criatividade.

“Quando as crianças vão para a escola, são pontos de interrogação; quando saem, são frases feitas”, observou o sociólogo e educador Neil Postman.

A essência da criatividade está na habilidade de fazer permanentemente perguntas sobre o mundo e de procurar novas combinações das coisas que já existem.

Uma criança faz, em média, 65 perguntas por dia; um adulto faz seis.

Hoje em dia, encontra-se na sociedade aquilo que poderia ser denominado de “cultura de conformidade”, onde profissionais, estudantes e demais indivíduos são desencorajados a apresentarem soluções criativas. Todos buscam soluções padrão para tudo, nos tornando apenas repetidores de processos já testados e aprovados.

Você sabia que o custo para construir um computador com características semelhantes às do seu cérebro seria em torno de três bilhões de dólares?

Não pense você que os grandes pensadores já nasceram tendo boas idéias. Assim como uma criança não nasce falando, mas com o tempo vai desenvolvendo a fala, da mesma forma também devemos desenvolver a nossa criatividade.

Segundo Catherine Patrick, em seu livro “O que é pensamento criativo”, o ato criativo é constituído de quatro etapas que são, na maioria das vezes, imperceptíveis às pessoas.

A primeira etapa é a preparação, onde se procura interagir com determinado problema, juntando a maior quantidade possível de informações, lendo, escrevendo, discutindo, consultando, enfim, aprofundando o seu conhecimento sobre determinado assunto.

A segunda etapa é a incubação, onde o problema passa a ser uma questão inconsciente, sujeito ao trabalho de associações e conexões impensadas, constituindo a essência da criação. Daniel Goleman em seu livro “Espírito criativo” diz que “ficamos mais receptivos a sugestões da mente inconsciente nos momentos de devaneio, quando não estamos pensando em nadaem particular. Por isso, o sonhar acordado é tão útil na busca da criatividade”.

A terceira etapa é a iluminação, que traz ao consciente uma solução originada das inúmeras associações de idéias geradas no subconsciente.

E, finalmente, a quarta etapa é a verificação, onde se julga se a idéia ou solução gerada é aplicável.

O estudo realizado por Margarita de Sánchez, uma das mestras em pensamento lógico-criativo aponta uma série de bloqueadores à criatividade.

Margarita afirma que o desenvolvimento da criatividade se vê muitas vezes afetado pela presença de barreiras ou bloqueios formados por modelos mentais. Tais elementos limitadores impedem a geração livre de idéias e o uso adequado das informações disponíveis.

A forma de percepção faz com que a visão da realidade seja parcial.

Estes bloqueios são criados por nós mesmos: temores, percepções, preconceitos, experiências, emoções, etc. Outros são criados pelo ambiente: tradição, sociedade, regras, falta de apoio, conformismo, entre outros.

Outra forma de entender os chamados bloqueios mentais ou emocionais é percebê-los como construções criativas de nossa própria mente inconsciente para lidar com os regulares problemas causados pela expressão descontrolada de nossos impulsos criativos.

John Stuart Mill, filósofo e economista inglês, além de um dos pensadores liberais mais influentes do século XIX, diz que “Nenhum grande avanço no destino da humanidade é possível sem que haja uma grande e fundamental mudança nos seus modos de pensar”.

Quer mudar o seu modo de pensar? Comece enfrentando a realidade: qual foi a última vez que você participou de um evento que criou algo novo? Qual a última vez que você estimulou a criatividade dos outros? Você se desafia frequentemente a olhar para a mesma coisa como todos olham e enxergar algo diferente?

Pois a verdadeira dificuldade não está em aceitar idéias novas, mas em escapar das idéias antigas diria, John M. Keynes, um dos mais influentes economistas do século XX, criador da Macroeconomia.