sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Idéias e Melancias!

Gostei do texto do prof. Marcos Hashimoto* e resolvi replicá-lo aqui:

Há dois meses resolvi cuidar do meu jardim. Quando limpava o mato, percebi uma planta diferente. Tinha uma folhagem com desenho irregular e cor meio verde-acinzentada. Não me pergunte porque, mas eu decidi não arrancá-la. Talvez mera curiosidade, talvez uma expectativa por uma surpresa... Não, acho que foi preguiça mesmo...

O fato é que, dois meses depois, a plantinha cresceu e mostrou a que veio ao mundo. Com ramos rasteiros de mais de 1 metro de comprimento, percebe-se facilmente que se trata de um pé de melancia! Pode-se notar, ainda que muito pequena, com um mero centímetro de diâmetro, que possui o formato, cor e desenho de uma melancia. Com certeza, uma das sementes que as crianças jogaram no jardim. Continuarei a observá-la, e até cuidar dela, mas, sabendo agora do que se trata, não tenho a menor expectativa que a fruta cresça até sua plenitude, sobretudo considerando o ainda insipiente tamanho da planta. Mas isso me trouxe um motivo de reflexão.

Quantas idéias surgem na nossa mente e que arrancamos sem dar-lhes a chance de maturar e mostrar o que podem se tornar? Quantas coisas passam pela nossa cabeça que ignoramos e logo esquecemos limitados pela nossa noção de absurdo, impossível, inadequado, sem importância, ‘fora do padrão', e são descartadas como ervas daninhas? Roger Von Oech, autor do livro ‘Um Toc na cuca', chama estas atitudes de ‘bloqueios mentais', ou seja, todas as barreiras que, às vezes, nós mesmos impomos às nossas idéias.

Tenha em conta também, que uma idéia pode parecer óbvia e fácil depois que a conhecemos. Pode parecer fácil plantar melancias, mas com certeza, aquela semente que vingou foi apenas uma das dezenas que foram jogadas pelas crianças no almoço. Muitas vezes, para se chegar a uma boa idéia, é preciso ter muitas para poder escolher. Muitas idéias fracassam até que uma se torne um sucesso. Uma das regras da criatividade é que quantidade representa qualidade: ‘A melhor maneira de ter grandes idéias é ter muitas idéias e jogar fora as ruins'.

Voltando para meu jardim, durante estes mesmos dois meses, tentei salvar um pequeno arbusto que eu havia plantado para fechar a composição de uma parte do jardim. Por mais que protegesse do sol intenso, regasse com precisão diária, mantivesse-a adubada e podada, ao final ela não sobreviveu e secou. Por quê? Por que a despeito de todo o carinho, atenção e cuidados, ela se recusou a se adaptar à sua nova moradia? Por que ela não deu certo se estava cercada de todas as condições para crescer e se desenvolver?

A verdade é que às vezes, a planta pode ser linda, cara e até forte e resistente. Mas se não for plantada no local e momento certos, de nada adiantam seus esforços para desenvolvê-la, simplesmente não era para ser. Na contrapartida, uma simples semente, encontrando as condições necessárias para brotar e se tornar uma planta, encontrará seu caminho sozinha, sem nenhuma ajuda. Mais uma vez, assim são as idéias. Às vezes nos esquecemos que uma idéia só é mesmo boa quando ela encontra aberta uma janela de oportunidade. Se a oportunidade não se apresentar, a idéia pode não ser tão boa assim. Da mesma forma que várias invenções falharam no passado por não terem encontrado o ambiente propício, muitas de hoje não vão se desenvolver por não estarem no momento e local apropriado. O pior é que muitas vezes, você se concentra tanto em uma única idéia que não percebe as coisas acontecendo ao seu redor, não percebe outras oportunidades surgindo, não consegue ver as outras perspectivas que esta mesma idéia pode trazer para ser melhor aproveitada.

Cuidado também com a empolgação. Uma idéia pode ter se mostrado muito boa, mas não era o que você procurava. Para quem quer um jardim ornamental, o que fazer com um pé de melancia? Se ela não orna com o resto, se ela não se adequa ao contexto, não tenha dó de descartá-la. Na melhor das hipóteses, poderia simplesmente transplantá-la para um local mais apropriado. De nada adianta ter uma idéia para diminuir roubos a medicamentos se você trabalha no mercado editorial.

Por fim, levei dois meses para descobri que eu tinha um pé de melancia no meu jardim. Talvez sejam necessários alguns meses para ter uma melancia de fato. A boa idéia tem que estar associada com o tempo também. Evoluir uma idéia que está quinze minutos à nossa frente é diferente de uma idéia que esteja a anos-luz à frente. Muitas boas idéias como a fotocopiadora levaram mais de 20 anos para se tornar um acessório fundamental nos escritórios. Esteja ciente do tempo que será necessário para sua idéia se tornar viável. Se ao invés de uma melancia, eu quiser jacas, talvez tenha que esperar mais de 10 anos entre a muda e a fruta!


* Professor de Empreendedorismo na graduação e MBA do Insper Ibmec São Paulo, Doutor em Administração de Empresas pela EAESP/FGV, Consultor e palestrante.